O
filme de terror é baseado numa historia veridica. Vou colocar aqui essa
historia para os curiosos. As fotos que se seguem correspondem
respectivamente a uma cena do filme e depois a uma foto da verdadeira
Emily Rose, que se chamava Anneliese Michel.
Anneliese
Michel (Leiblfing, 21 de setembro de 1952 — Klingenberg am Main, 1 de
julho de 1976) foi uma jovem alemã de família católica que acreditava
ter sido possuída por uma legião de demônios, tendo sido submetida a uma
intensa série de sessões de exorcismo pelos padres Ernest Alt e Arnold
Renz em 1975 e 1976.
As graves conseqüências atribuídas ao
rito de exorcismo sobre a jovem motivaram a abertura de um processo
criminal pelos promotores de justiça locais contra os pais de Anneliese e
os padres exorcistas, causando uma grande polêmica em toda a Europa e
dividindo a opinião pública mundial. O Caso Klingenberg, como passou a
ser conhecido pelo grande público, deu origem a vários estudos e
pesquisas, tanto de natureza teológica quanto científica, e serviu como
inspiração para os filmes O Exorcismo de Emily Rose, dirigido pelo
cineasta estadunidense/norte-americano Scott Derrickson, e Requiem,
dirigido pelo polêmico cineasta alemão Hans-Christian Schmid.
Infância
Anneliese
Michel nasceu em Leiblfing, no estado federal alemão da Baviera, mas
foi criada com as suas três irmãs no pequeno município de Klingenberg am
Main. Seus pais, Anna e Josef Michel, muito religiosos, lhe deram uma
educação profundamente católica. O pai de Anneliese mantinha a família
trabalhando em uma serraria.
Tratamento médico
Em
1968, com apenas dezesseis anos, Anneliese começou a apresentar
sintomas e comportamentos que foram diagnosticados a princípio como
epilepsia aliada a um quadro aparente de esquizofrenia, após vários
exames na Clínica Psiquiátrica de Würzburg.
Durante a noite,
o corpo de Anneliese subitamente se tornava rígido, sentindo um enorme
peso sobre o peito, além de uma total incapacidade de falar.
Anneliese
foi então enviada para o internamento no Hospital Psiquiátrico de
Mittleberg, onde ela permaneceu em tratamento intensivo durante um
período de aproximadamente um ano. Quando finalmente recebeu alta, foi
ainda capaz de completar os seus estudos secundários e matricular-se na
Universidade de Würzburg, onde iniciou os seus estudos em pedagogia.
Entretanto,
durante todo esse tempo, Anneliese afirmava continuar escutar vozes
ameaçadoras que diziam que ela "queimaria no Inferno" e ter visões
assustadoras que ela mesma atribuiu a uma possessão demoníaca. Sem que
os médicos encontrassem uma cura definitiva e sem uma explicação
satisfatória para os sofrimentos da jovem, os seus pais começaram a
cogitar que sua filha, de fato, estava possuída por alguma força
sobrenatural maligna. Anneliese agora tinha visões de faces demoníacas
durante as suas preces diárias, enquanto aumentava a sua intolerância a
lugares e objetos sagrados e mergulhava cada vez mais em crises
depressivas.
Durante todo esse período de tempo e até perto
do final das sessões de exorcismo, Anneliese foi medicada com poderosos
psicotrópicos. No início com Aolept (periciazina), que evita as
convulsões por meio de sua ação direta no sistema nervoso, e depois com
Tegretol (carbamazepina). A medicação se revelou ineficaz em deter as
convulsões e fazer desaparecer as visões e vozes, que se tornaram mais e
mais freqüentes para a jovem Anneliese.
O Exorcismo
No
verão de 1973, os pais de Anneliese foram até a paróquia local
solicitando aos religiosos que submetessem a sua filha ao ritual de
exorcismo. A princípio, o pedido foi negado, uma vez que a doutrina da
Igreja Católica com respeito a essas práticas é muito restrita. Segundo a
Igreja, dentre outras coisas, os possuídos devem ser capazes de falar
línguas que nunca tenham estudado, manifestar poderes sobrenaturais e
mostrar grande aversão aos símbolos religiosos cristãos.
Algum
tempo depois, o padre Ernst Alt, considerado um perito no assunto,
conclui que Anneliese já reunia as condições suficientes para a
realização do exorcismo, de acordo com os procedimentos prescritos no
Rituale Romanum.
Por essa época, Anneliese já tinha assumido
um comportamento cada vez mais irascível. Ela insultava, espancava e
mordia os outros membros da família, além de dormir sempre no chão e se
alimentar com moscas e aranhas, chegando a beber da própria urina.
Anneliese podia ser ouvida gritando por horas em sua casa, enquanto
quebrava crucifixos, destruía imagens de Jesus Cristo e lançava rosários
para longe de si. Ela também cometia atos de auto-mutilação, tirava
suas roupas e urinava pela casa com freqüência.
Em 1974,
após acompanhar de perto o comportamento de Anneliese, o padre Ernest
Alt finalmente decidiu solicitar permissão ao Bispo de Würzburg para
realizar o exorcismo e a permissão foi concedida.
Após
efetuar uma exata verificação da possessão (Infestatio) em setembro de
1975, o Bispo de Würzburg, Josef Stangl, autorizou os padres Ernest Alt e
Arnold Renz a realizarem os rituais do Grande Exorcismo, cuja base é o
Rituale Romanum, que ainda era, à época, uma lei canônica válida desde o
século XVII.
No rito do exorcismo o padre deve portar um
crucifixo e uma Bíblia, para poder utilizar as palavras ditas por Jesus
Cristo com precisão. Deve fazer o sinal da cruz, abençoar a pessoa
possuída e aspergir sobre ela água benta. O padre então ordena com fé e
firmeza que o demônio deixe o corpo do possesso e ora pedindo pela
salvação da vítima em nome de Jesus Cristo. As orações denunciam a ação
maléfica de Satanás e rogam pela misericórdia de Deus. Normalmente, os
padres levam o possesso para uma igreja ou capela, onde podem realizar o
rito reservadamente, apenas com a presença dos familiares. As sessões
de exorcismo não têm um prazo de duração específico, podendo se estender
durante horas, dias ou meses.
No caso de Anneliese, as 67
sessões de exorcismo que se seguiram, numa freqüência de uma ou duas por
semana, se prolongaram inicialmente por cerca de nove meses, durante os
quais ela muitas vezes tinha que ser segurada por até três homens ou,
em algumas ocasiões, acorrentada. Ela também lesionou seriamente os
joelhos em virtude das genuflexões compulsivas que realizava durante o
exorcismo, aproximadamente quatrocentas em cada sessão.
Nas
sessões, que foram documentadas em quarenta fitas de áudio para
preservar os detalhes, Anneliese manifestou estar possuída por, pelo
menos, seis demônios diferentes, que se autodenominavam Lúcifer, Caim,
Judas, Nero, Hitler e Fleischmann, um padre caído em desgraça no século
XVI.
Todavia, o Rituale Romanum, assim como o tratamento com psicotrópicos, também não surtiu o efeito desejado
A Virgem
Durante
o período em que esteve submetida ao exorcismo, onde continuava tomando
os medicamentos, Anneliese relatou um sonho, onde teria se encontrado
com a Virgem Maria, e que ela lhe teria proposto duas escolhas para a
sua condição: ou ser liberada logo do jugo dos demônios ou continuar o
seu martírio para que todos soubessem que o mundo espiritual e ação dos
demônios no mundo existem de fato. Anneliese teria escolhido a segunda
opção.
Segundo entendimento do ensaísta Elbson do Carmo, em seu artigo [1], no Universo Católico:
"Anneliese
optou pelo martírio voluntário, alegando que seu exemplo enquanto
possessa serviria de aviso a toda a humanidade de que o demônio existe e
que nos ronda a todos, e que trabalhar pela própria salvação deve ser
uma meta sempre presente. Ela afirmava que muitas pessoas diziam que
Deus está morto, que haviam perdido a fé, então ela, com seu exemplo,
lhes mostraria que o demônio age, e independe da fé das pessoas para
isso. " (fonte: Universo Católico)
Falecimento
Em
1 de julho de 1976, no dia em que Anneliese teria predito sua
liberação, morreu enquanto dormia. À meia-noite, segundo o que afirmou,
os demônios finalmente a deixaram e ela parou de ter convulsões.
Anneliese foi dormir exausta, mas em paz, e nunca mais acordou,
falecendo aos 23 anos de idade. A autópsia considerou o seu estado
avançado de desnutrição e desidratação como a causa de sua morte por
falência múltipla dos órgãos. Nesse dia o seu corpo pesava pouco mais de
trinta quilos.
Julgamento
Logo
após o falecimento de Anneliese, os padres Ernest Alt e Arnold Renz
fizeram o comunicado do óbito às autoridades locais que, imediatamente,
abriram inquérito e procederam às investigações preliminares.
Os
promotores públicos responsabilizaram os dois padres e os pais de
Anneliese de homicídio causado por negligência médica. O bispo Josef
Stangl, embora tivesse dado a autorização para o exorcismo, não foi
indiciado pela promotoria em virtude de sua idade avançada e seu estado
de saúde debilitado, vindo a falecer em 1979. Josef Stangl foi quem
consagrou o padre Joseph Ratzinger como bispo, que no futuro se tornaria
o Papa Bento XVI.
O julgamento do processo, que passou a ser
denominado como o Caso Klingenberg (em alemão: Fall Klingenberg),
iniciou-se em 30 de março de 1978 e despertou grande interesse da
opinião pública alemã. Perante o tribunal, os médicos afirmaram que a
jovem não estava possuída, muito embora o Dr. Richard Roth, ao qual foi
solicitado auxílio médico pelo padre Ernest Alt, teria feito a afirmação
à época que não havia medicação eficaz contra a ação de forças
demoníacas (cfe. fonte original: "there is no injection against the
devil").
Os médicos psiquiatras, que prestaram depoimento,
afirmaram que os padres tinham incorrido inadvertidamente em "indução
doutrinária" em razão dos ritos, o que havia reforçado o estado
psicótico da jovem, e que, se ela tivesse sido encaminhada ao hospital e
forçada a se alimentar, o seu falecimento não teria ocorrido.
A
defesa judicial dos padres foi feita por advogados contratados pela
Igreja. A defesa dos pais de Anneliese argumentou que o exorcismo tinha
sido ato lícito e que a Constituição Alemã protege os seus cidadãos no
exercício irrestrito de suas crenças religiosas.
A defesa também
recorreu ao conteúdo das fitas gravadas durante as sessões de
exorcismo, que foram apresentadas ao tribunal de justiça, onde, por
diversas vezes, as vozes e os diálogos — muitas vezes perturbadores —
dos supostos demônios eram perfeitamente audíveis. Em uma das fitas é
possível discernir vozes masculinas de dois supostos demônios discutindo
entre si qual deles teria de deixar primeiro o corpo de Anneliese.
Ambos os padres demonstraram profunda convicção de que ela estava
verdadeiramente possessa e que teria sido finalmente libertada pelo
exorcismo, um pouco antes da sua morte.
Ao fim do processo, os
pais de Anneliese e os dois padres foram considerados culpados de
negligência médica e foi determinada uma sentença de seis meses com
liberdade condicional sob fiança.
Exumação
Antes
do início do processo, os pais de Anneliese solicitaram às autoridades
locais uma permissão para exumar os restos mortais de sua filha. Eles
fizeram esta solicitação em virtude de terem recebido uma mensagem de
uma freira carmelita do distrito de Allgaeu, no sudoeste da Baviera. A
freira relatou aos pais da jovem que teria tido uma visão na qual o
corpo de Anneliese ainda estaria intacto ou incorrupto e que esta seria a
prova definitiva do caráter sobrenatural dos fatos ocorridos. O motivo
oficial que foi dado às autoridades foi o de que Annieliese tinha sido
sepultada às pressas em um sarcófago precário.
Os relatórios
oficiais, entretanto, divulgaram a informação que o corpo já estava em
avançado estado de decomposição. As fotos que foram tiradas durante a
exumação jamais foram divulgadas. Várias pessoas chegaram a especular
que os exumadores moveram o corpo de Anneliese do antigo sarcófago para o
novo, feito de carvalho, segurando-o pelas mãos e pernas, o que seria
um indício de que o corpo não estaria na realidade muito decomposto. Os
pais e os padres exorcistas foram desencorajados a ver os restos mortais
de Anneliese. O padre Arnold Renz mais tarde afirmou que teria sido
inclusive advertido a não entrar no mortuário.
Críticas
Crítica Céptica
Na
atualidade, o uso das técnicas de exorcismo divide a opinião pública
mundial entre religiosos e céticos, como podemos constatar no artigo de
Palmira Silva [2], colaboradora lusa no Diário Ateísta, no qual critica a
interpretação adotada pelo filme norte-americano O Exorcismo de Emily
Rose:
"Por todo o mundo, mesmo o primeiro mundo, assistimos a
uma regressão medieval preocupante a crendices inesperadas numa altura
em que os avanços científicos desmistificaram e esclareceram as razões
biológicas e psíquicas dos comportamentos identificados como possessões
demoníacas na época em que a Inquisição mandava para a fogueira bruxas e
hereges." (Fonte: Diário Ateista)
Posteriormente uma comissão
da Conferência dos Bispos Alemães declarou que Anneliese Michel não
tinha estado possessa, o que foi considerado por muitos como um ato de
autopreservação da Igreja Católica.
Crítica Espírita
Segundo
a concepção existente na Doutrina Espírita, o que ocorreu com Anneliese
Michel teria sido muito provavelmente uma subjugação espiritual
realizada por entidades extra-físicas devotadas à prática do mal. Para
melhor compreensão de como o Espiritismo entende o caso de Anneliese e
para se ter acesso a um exame crítico dos acontecimentos em concordância
com este conceito, que possui diferenças consideráveis em relação ao de
possessão demoníaca no que concerne aos aspectos causais do fenômeno,
vide o artigo Obsessão.
Legado
Em
1999, na cidade do Vaticano, o Cardeal Jorge Medina Estevez apresentou
aos jornalistas a nova versão do Rituale Romanum, que vinha sendo usado
pela Igreja Católica desde 1614. A nova versão, escrita em latim em 84
páginas com encadernação de couro carmim, veio depois de mais de dez
anos de estudos e é denominada De exorcismis et supplicationibus
quibusdam (em português: "De todos os gêneros de exorcismos e
súplicas"). O Cardeal Estevez afirmou, durante a divulgação do rito
reformado, que "a existência do demônio não é um ponto de vista, algo no
qual se possa decidir acreditar ou não". O Papa João Paulo II aprovou o
novo rito de exorcismo que agora é adotado em todo o mundo católico.
Segundo
o Cardeal Jacques Martin, ex-administrador da Casa Pontifícia, em seu
livro My Six Popes, o próprio Papa João Paulo II teria realizado um
exorcismo em 1982, expulsando um demônio de uma mulher italiana que lhe
fora trazida contorcendo-se, gritando e lançando-se ao chão. O Papa João
Paulo II teria ministrado ainda dois outros exorcismos durante o seu
pontificado[3].
Nos dias atuais, o túmulo de Anneliese Michel em
Klingenberg am Main tornou-se um local de peregrinação para os cristãos
que a consideram uma devota que experimentou extremos sacrifícios em um
martírio voluntário para possibilitar a salvação espiritual de muitos.
Campa de Anneliese Michel